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CULTURA É AQUILO QUE TE TRANSFORMA

Para os nascidos no signo de Escorpião como eu, ou não, segue esse texto maravilhoso do Sílvio Rodrigo para que vocês aprendam conosco alg...

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Por uma Produção Independente Part. I



TODOS ESSES ANJOS

Todos esses anjos 
que à noite
agitam cortinas 
e sussurram frases
que temes entender:

Se te tomarem nos braços,
se te beijarem na boca,
se te entrarem no corpo,
não te darão certeza 
de que morrer, viver,
são igualmente 
suaves e difíceis,
loucos e sensatos , 
e urgentíssimos?

Poderás enfim amar, 
rendendo-te aquilo
que te aflora com suas asas,
te chama com suas vozes,
te vara constantemente 
com essa luz, essa dor...

( Lya Luft )


Fala galera! Segue mais atualização do nosso ponto de encontro às vezes diários, às vezes semanal e até quinzenal (rsrsrs) depende do humor e do que for baixar em mim quando escrever.
Essa postagem marca o inicio de algumas postagens relacionadas à minha mais nova publicação, ainda esse ano sai o famigerado Noites em fúria V.I por tanto, não se esqueçam de comentar do que acharam porque esse é o prólogo do meu próximo livro!!!!  

Mãos vazias, pés descalços... Um prólogo.

C
hegara ao céu com a indômita alma aquebrantada pelo intenso ardor de frio. Chorando por inteiras noites de solidão, as lágrimas que sem fim brotavam pareciam não secar. As asas encharcadas, pelos pecados de outrora cometidos, negras pesavam-lhe nas costas como toneladas de chumbo; fragilizando sua ferida espádua ensanguentada.

A ingrata vida madrasta tirou-lhe, a cruel, tudo o que de especial lhe havia; o cheiro da terra penetrava em suas narinas que tentava fracassadamente ignorar, estava arfante. O ar seco já ressecara toda a sua fina camada de pele, com efeito, caíra em derrota sobre o efervescente chão frio, era um deserto de gelo.
Mil anos se passavam dentro de uma hora. Era uma serena gota de um grande rio, era solidão em busca de companhia. Aos poucos, atirara-se na escuridão do seu imenso vazio interior, fechara os olhos.

Num leito sereno frio, sem motivo algum de desencanto... De desalento... Desapareceu-se em música a dançar no sabor dos ventos, de todo maldito. Era uma imensa chuva de emoções tempestuosas.

Tudo o que na terra arrefece; quieto ou morto, na verdade espera. Até mesmo um relógio, ainda que quebrado, pode está certo duas vezes em um único dia. Não era nada suficientemente forte o bastante para poder pará-lo. Amargo e frio de gota a gota, tudo o que ele era dissipou-se por embaixo da terra esperando um dia, um chamado pelo qual se ousaria despertar.

A palo seco tivera de incumbência falar sobre o amor; a sua cor, o seu jeito, com todos os seus atritos e estrondos, mas disso era abastado, pobre coitado. Todos naquele imenso paraíso tinham a face de si o pecado da inveja, a inveja clerical. “infaustos... infaustos... um horror... um horror”.

Um canto místico, uma espiritualidade sugestiva, uma plenitude angustiada, íntima e incompleta. Como poderá, oh meu bom senhor! Um pobre de alma lassa sentir ou falar do amor? Afinal de contas, era prisioneiro do seu próprio corpo, sua visão limitada a um simples par de olhos frontais, uma rouca voz prisioneira da garganta, cuja essência era prisioneira do labirinto do seu próprio ser; conhecer algo tão abstrato, forte e profano que faz as mulheres desejarem maridos à procura de um platônico amante.

Ainda não entendera porque o Senhor em toda a sua honra e graça ainda que cuja face velada, capaz de demonstrar seu esplendor em dourado, bronze e prata, ter a seus pés toda a glória trina em um só verbo, pedir a um simples esquecido, escravo do anonimato, conhecer a gama grandeza dos dons do amor e não poder senti-lo. Conhecer em teu louvor vibrações sonoras pelo canto singelo de uma criança que ri, que ruge e que chora. Sem que ao menos pudesse ele fremir, em pranto de não poder cantar.

Nunca entendera, ou talvez fizesse mais sentido a ele não querer entender minúcias da sua triste e estranha condição, simplesmente aceitou-a sem repudiá-la um só momento. Em instantes não pertenceria mais a esta atmosfera fria e cinzenta, esperando apenas a revoada de luzes douradas o levarem para bem longe dali, para lá permanecer até o próximo desavir.

 As semanas se invertem levando consigo o tempo e suas medidas. Era um ano cabendo em uma hora, eram horas cabendo em segundos; passam-se os tempos, mudam-se os dias; passam-se as estações, acalmam-se as inquietações.

 Na vida tudo passa, nela só temos o presente e é tudo o que importa, e tudo o que será dito ocorreu no mais indicativo dos presentes, o passado. Parece loucura, mas até o agora já passou.

A sua vil punição era viver entre os humanos que tinham todo o amor do mundo, mas nunca usavam. Coitada da maldita alma que dele dependa de proteção. E assim como de fato a vida ocorre, de mãos vazias e pés descalços o amor tornara-se a mais triste e estranha das suas devoções, não mais uma condição. Um amor de devoção.



Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades[1],
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.


Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.
(...)



[1] Luís Vaz de Camões. Escritor lusitano do século XVI e autor da famigerada epopeia nacionalista Os Lusíadas.

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