Então.... Ainda Pensa Que é Humano? T. Queer Part. II
Vamos
dar a césar o que é de César; o material a ser lido por vocês não pertence a
mim, mas ao blog Blogueiras Feministas:
Vocês
podem visualizá-lo para um melhor aprofundamento do assunto que começamos a
abordar em nossa última postagem, portanto espero que entendam o que virá a
ser proposto, pois dificilmente encontramos algo tão bom quanto Dona Haraway em:
A POLÍTICA SEXUAL DA CARNE: blogueiras feministas
A Editora Alaúde entrou
em contato conosco porque lançou recentemente “A Política Sexual da Carne – A relação entre o carnivorismo e a
dominância masculina“. Escrito por Carol J. Adams.
Na obra, Carol defende a tese de que há ligações extremamente pertinentes entre
os movimentos sociais feministas e as práticas vegetarianas e que avaliar os
pontos de interseção entre esses dois grupos poderia contribuir para uma
sociedade mais igualitária.
Para
falar sobre o livro e formular 3 perguntas para Carol J. Adams, convidamos Deborah
Sá*(@aqueladeborah),
feminista e vegana que há um bom tempo discute essas relações em seu blog:Aquela Deborah.
Abaixo você confere o texto da Deborah e as perguntas que Carol J. Adams
respondeu.
———-
O
livro que transformou meu feminismo
Antes de me tornar vegetariana (e vegana), eu era
feminista.
Não precisei de teoria para me descobrir “mulher”, uma vez que não há conflito entre os signos sociais e biológicos, associados ao gênero que possuo. Sinto-me confortável na pele em que habito. Porém, compreender o porquê de me tratarem diferente sendo mulher, o porquê de certas performances serem exigidas do meu corpo, nisto sim, a teoria feminista teve um peso fundamental.
Foi através do feminismo que compreendi que não havia nada de errado em cortar os cabelos bem curtos, de que não precisaria espremer meus pés em saltos desconfortáveis para ser empoderada, da opção de usar uma roupa discreta ou um decote profundo.
Não precisei de teoria para me descobrir “mulher”, uma vez que não há conflito entre os signos sociais e biológicos, associados ao gênero que possuo. Sinto-me confortável na pele em que habito. Porém, compreender o porquê de me tratarem diferente sendo mulher, o porquê de certas performances serem exigidas do meu corpo, nisto sim, a teoria feminista teve um peso fundamental.
Foi através do feminismo que compreendi que não havia nada de errado em cortar os cabelos bem curtos, de que não precisaria espremer meus pés em saltos desconfortáveis para ser empoderada, da opção de usar uma roupa discreta ou um decote profundo.
O feminismo também ajudou a tornar pública a
dolorosa experiência de ser alvo de violência sexual e através disso, conhecer
tantas outras mulheres que passaram pelo mesmo, tendo a dimensão de que a
violência contra mulheres e crianças estava muito mais próxima do que poderia
imaginar.
Percebi as reverberações do machismo: Nos
comerciais, no humor, nas revistas, na ciência, no cotidiano, nos discursos, no
academicismo. Se somos produto do nosso meio as produções culturais são um
reflexo. Tempos depois me tornei vegetariana e um ano após, adotei o veganismo.
Nesse ínterim, descobri Carol J. Adams
e o “The Sexual Politics of Meat”, o que
se configurou em um duplo desafio. Em primeiro lugar, nunca havia lido um livro
em inglês; em segundo, a discussão acerca do vegetarianismo em círculos
feministas é escassa e por vezes tempestuosa.
Escassa, porque estatisticamente existem mais
feministas do que veganas (uma minoria, dentro de outra). Além disso, teme-se
que o “foco” do debate feminista seja encoberto por uma causa “menor” que é o
direito animal. Tempestuosa, porque é um assunto com maior impacto no
dia-a-dia e requer uma série de considerações.
Verdade seja dita: Você pode passar uma semana
inteira sem fazer uma piada machista e provavelmente quem faz parte de sua
vida, nem repare. Mas experimente uma semana sem comer carne ou derivados de
origem animal e a curiosidade se voltará para você, como se de uma hora para
outra, usasse um adereço exótico similar a uma cartola chamativa e brilhante,
cuja protuberância tornasse impossível desviar o olhar.
A submissão da mulher aos homens pode ser justificada
por passagens bíblicas, a dos animais também. Algumas feministas se opõem a
objetificação afirmando que “não são um pedaço de carne”. Uma famosa marca de
batatas lançou anos atrás duas versões em sabores separadas em “meninos” e
“meninas”, para os meninos foi produzido o sabor churrasco, para as meninas o
sabor cream cheese.
Alimentos de segunda classe (frutas, legumes,
verduras, leguminosas, derivados de leite, como iogurte), são associados a
elementos de segunda classe, como a figura feminina e infantil. No topo da
cadeia alimentar está o homem branco, viril, comedor de carne. Que atire a
primeira pedra o homem vegetariano que nunca teve sua orientação sexual
questionada por hábitos alimentares.
Carne também é um símbolo de ascensão social.
Quanto maior o poder aquisitivo, mais nobre são as peças para o churrasco e se
não é possível introduzir as carnes nobres, que sejam salsichas, línguas,
tripas, como for, o importante é não perder a “sustância” das refeições.
Frisando que usualmente quem faz as refeições são as mulheres, que podem
preparar pequenas porções de nuggets de soja, mas precisam fritar bifes para o
companheiro.
Uma leitura que surpreende é aquela que nos faz ver
o que estava posto, mas não sabíamos nomear. Foi exatamente isso que Carol
Adams fez pela minha militância. Juntou os pontos entre essas duas lutas que
estavam conectadas por traços tênues e através de sua inspiração, ganharam
contornos mais exatos na certeza de que se não são mais evidentes, é devido a
ausência de debate contextualizado na realidade brasileira.
Demoraram mais de vinte anos para sua obra “A
Política Sexual da Carne” ser traduzida em nosso idioma. Com isso, espero que
os conceitos de rapto, encarceramento, tortura, privação, servidão e execução
de animais não-humanos, percam o status de tradição perpétua e sejam expostos
pelos seus termos reais, longe do eufemismo dos que buscam a liberdade para si,
para os seus, e nada mais.
Veganismo é uma vertente do vegetarianismo, onde
além de excluir o consumo de carnes, também são retirados do cardápio outros
produtos de origem animal, tais como o mel, leite e ovos. Vegans não usam
insumos como lã, couro, camurça e opõem-se ao uso de produtos que tenham sido
testados em animais.
Segundo o livro “A Política
Sexual da Carne”, o consumo de carne é associado à masculinidade, endossado
inclusive pela propaganda desses produtos. O material exposto em sua obra
questiona os paradigmas da masculinidade, quais são suas expectativas do impacto
desta obra no Brasil, onde a virilidade masculina e o consumo de carne são
indissociáveis?
Espero
que o livro gere consciência e desse modo, capacite as pessoas a desafiarem
tanto a dominação masculina como o consumo de carne.
Espero
que o livro ajude as feministas a compreenderem que a posição da mulher na
sociedade tem de ser desafiada num contexto que reconheça o que está
acontecendo com os outros animais. (Muitas vezes, as feministas dizem: “não
somos animais! Nós somos como os homens!” Mas eu estou tentando mostrar como
isso é perigoso, permitir que “animais” existam como a negação ou o oposto de
seres humanos, para em seguida serem identificados com o masculino. Espero que
as feministas reconheçam que a instável posição das mulheres num mundo
patriarcal sempre vai nos aproximar dos outros animais. Simplesmente dissociar
a situação das mulheres dos animais não vai desfazer essa “instabilidade”.)
Comer
carne é um símbolo da dominação masculina, isto é verdade nos Estados Unidos. No
Brasil e na maioria dos países desenvolvidos. Eu quero que veganos e ativistas
que defendem os direitos dos animais compreendam que somente desafiar o consumo
de carne, sem reconhecer seu contexto dentro de uma cultura patriarcal, vai
significar não apenas um monte de oportunidades perdidas na construção de
coalizões, mas também nunca vai eliminar a verdadeira causa da opressão dos
animais.
Escrevi
“A Política Sexual da Carne” para mudar as mentes das pessoas, depois que elas
mudarem suas ideias sobre o consumo de carne e masculinidade, elas mudarão suas
vidas, incluindo sua alimentação. Espero que isso aconteça no Brasil, também!
2) Em sua opinião, há muita relutância no Movimento Feminista para
levar em consideração a luta pelo direito dos animais não-humanos?
Sim,
há. Quando o livro foi publicado, eu soube de feministas que não queriam
comprá-lo porque não queriam parar de comer carne. Fiquei espantada com a ideia
das pessoas não lerem teoria feminista porque talvez faça o que se espera que
ela deve fazer: expandir a consciência e mudar vidas. Então, há
resistência porque indivíduos, incluindo feministas, gostam de comer animais
mortos. Mas, essa não é a única razão. porque existem diversas razões para as
feministas desconfiarem da luta pelos animais não-humanos.
Compreendo
que as feministas suspeitem de qualquer um que lhes digam o que fazer. Em
nenhuma parte do livro digo explicitamente que as feministas deveriam parar de
comer carne. Acredito que meus leitores cheguem a essa conclusão a partir do conhecimento
que o livro abre. Mas meu papel não é de ditar regras ou ser autoritária. Eu
acho que algumas feministas associam o veganismo com esse tipo de autoritarismo
e isso é um outro motivo para a relutância.
Uma
terceira razão para a resistência é que o mundo atual traz desafios
consideráveis para que as mulheres possam viver suas próprias vidas (dominação
masculina, violência contra a mulher, tetos de vidro, legislação anti-aborto,
etc). As feministas as vezes pensam: “é sério que você me diz que existe algo
diferente sobre o qual devemos nos preocupar? nós já temos o suficiente na
nossa agenda de lutas”.
Uma
quarta razão foi discutida anteriormente: a impressão de que as feministas
querem quebrar a associação entre mulheres e animais para confirmar nosso
direito de sermos vistas como totalmente humanas. O problema é que 1) como
definimos “totalmente humano” é identificado e definido pelo masculino (por
exemplo: o homem de razão na filosofia ocidental); 2) nós estamos reforçando
uma hierarquia (humanos/animais) e estamos apenas tentando garantir que somos
vistas na parte de cima dessa hierarquia, eu acredito que devemos desafiar a
hierarquia.
Uma
quinta razão é que as feministas acreditam não ter tempo para cozinhar de modo
vegan. Porém, como qualquer coisa nova que nós aprendemos leva um tempo para
aprender a cozinhar, mas dietas veganas podem prevenir contra certas doenças
ocidentais, associadas ao consumo de carne (cancer do cólon, cancer de mama,
colesterol alto) então, também existem ganhos de longo prazo.
Finalmente,
o sexismo de algumas campanhas pelos direitos dos animais fazem as feministas
suspeitarem com justiça. mas no final o que eu argumento no livro é que as
opressões são interconectadas e devemos conhecer as interconexões para sermos
efetivas em nossa resistência.
3) As campanhas da ONG PETA frequentemente expõem mulheres
semi-nuas para divulgação do vegetarianismo, você considera isso uma forma
machista de divulgar a causa?
Sim,
penso que a PETA é, provavelmente, a mais conhecida entidade de defesa dos
direitos dos animais que cria campanhas sexistas. É como se eles dissessem: “hey, tudo bem olhar para as
mulheres como objetos, mas não olhe animais como objetos”. Eles não estão desafiando a
objetificação em si, apenas a objetificação de animais não-humanos. Acho que
essas campanhas são mal pensadas e também um grande atraso no reconhecimento
das interconexões. E porque as opressões são interconectadas, elas (as
campanhas) falharão.
Acredito
que as campanhas da PETA são perigosas porque elas levam ativistas dos direitos
dos animais, que não querem sexualizar seu ativismo, a serem ignorados. Existem
muitos ativistas ao redor do mundo que entendem as opressões interconectadas e
que são sensiveis ao ativismo feminista e anti-racista, mas o PETA consegue
toda a atenção por causa das suas acrobacias e pela sua vontade de exibir os
corpos das pessoas.
———-
*Deborah Sá é vegetariana há quatro anos. Acredita
que mulheres não existem para serem submetidas aos homens, que negros não devem
ser submissos aos parâmetros de branquitude e que os animais não-humanos, não
têm por função servir a humanidade no entretenimento, vestuário, pesquisa
científica, ou alimentação.
**Carol J. Adams é ativista, autora também de The Pornography of Meat e Living Among Meat Eaters, inéditos no Brasil.
SEGUE
AGORA....
Com vocês o meu Fotografo russo
favorito Max Sauco. Nascido em 1969, Sauco é membro da união de fotógrafos russos
desde 2002, sendo bastante renomado pela temática erótica/surrealista muito bem
desenvolvida em seus trabalhos e que vocês terão o deleite de visualizá-las.
ENTÃO VOCÊ PENSA QUE É HUMANO?
www.sauco.ru/
Há muito que dizer, por tanto
deixo então todo o espaço e tempo disponível para vocês comentarem prefiro
ouvi-los, pois já falo demais. Por tanto segue um clipe dito "estranho" por alguns, mas que dialoga perfeitamente com a temática queer que tanto discutimos e sugerimos nesses últimos encontros.
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